Tricotomia vs Dicotomia
Dicotomia e Tricotomia
Esse tema é muito complexo na teologia cristã e sempre é trazido a mesa nos debates teológicos, isso porque ele afeta alguns pontos da doutrina como:
- Natureza da Salvação: Como a salvação afeta o corpo, a alma e o espírito?
- Ressurreição: Como será a natureza do corpo ressuscitado?
- Pecado: Como o pecado afeta as diferentes partes da pessoa humana?
- Relação com Deus: Como o espírito humano se relaciona com Deus?
A definição dos termos:
- Dicotomia:
- Definição: Esta visão divide o ser humano em duas partes: corpo (material) e alma (imaterial).
- Argumentos: Baseia-se em passagens bíblicas como Gênesis 2:7, onde Deus forma o corpo do homem do pó da terra e sopra o fôlego de vida em suas narinas, sugerindo uma separação entre corpo e alma.
- Limitações: Alguns argumentam que essa visão não explica completamente a natureza tridimensional da pessoa humana, como expressa em 1 Tessalonicenses 5:23 (“o Deus da paz vos santifique inteiramente; e todo o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”).
- Tricotomia:
- Definição: Esta visão divide o ser humano em três partes distintas: corpo (material), alma (parte racional e emocional) e espírito (parte que se relaciona diretamente com Deus).
- Argumentos: Baseia-se em passagens como Hebreus 4:12 (“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, das juntas e medulas, e é poderosa para discernir os pensamentos e intenções do coração”).
- Limitações: Alguns argumentam que essa visão pode levar a uma separação artificial entre as partes da pessoa humana, ignorando a unidade e a interdependência entre elas.
Willian Hendriksen comenta em seu livro, A vida futura segundo a Bíblia: “Porém, em nenhuma parte as Escrituras ensinam que o homem é composto de três partes.
Leia Gênesis 2.7, e você notará que, na história da criação do homem, sua natureza dupla é claramente afirmada. Uma longa lista de passagens poderia ser dada para indicar que os inspirados autores da Bíblia eram dicotomistas.
A Bíblia diz que o corpo do homem foi modelado por Deus do pó e só então soprado o espírito de vida nele. O homem recebe o espírito após o corpo estar pronto. São duas partes e não três.”
Podemos citar uma lista de passagens como Eclesiastes 12.7; Mateus 10.28; Romanos
8.10; 1 Coríntios 5.5; 7.34; Colossenses 2.5; e Hebreus 12.9.
Hendriksen continua: “O fato de que o homem foi criado à imagem de Deus, usado como prova para a teoria tricotomista, conduziria a pessoa à tola conclusão de que o homem, como acontece com Deus, consiste de três pessoas. A referência sobre o tabernáculo com suas três divisões é certamente forçada. Sobre 1 Tessalonicenses 5.23, aqui os termos espírito, alma e corpo não devem ser somados, como se espírito e alma fossem duas entidades separadas.”
Indo além, em todos os outros lugares Paulo se refere claramente à personalidade humana como consistindo de duas partes. E, sobre Hebreus 4, 12, o Professor Louis Berkhof declara que “Hebreus 4.12 não deveria ser usado para significar que a palavra de Deus se aprofunda à intimidade do homem e faz uma separação entre sua alma e seu espírito… mas, simplesmente, como que declarando que provoca uma separação em ambos, entre os pensamentos e intentos do coração” (Systematic Theology,” p. 195).
Embora firmemente acreditemos na dicotomia do ser humano, reconhecendo a distinção entre corpo e alma, é muito importante lembrar que a diversidade de pensamento enriquece nossa comunidade. Somos iguais porque o diferente nos use. O corpo é feito de membros diferentes, e cada um executa um papel distinto tornando o corpo de Cristo uno e invencível (1 Coríntios 12.12-27). Lembre-se que a estratégia do inimigo sempre foi dividir para conquistar. Cuidado com o sectarismo religioso.
Pr. Max Mendes
Fundador do Papo com Deus e do Instituto Bíblico Discipular
Olá, graça e paz meus irmãos!
Gostaria de saber a visão dos irmãos sobre a questão de que quando o ser humano morre o espirito volta para Deus que o deu (Ec 12:7). Se o espírito e alma são a mesma coisa, então se sustenta que a Alma volta para Deus quando este homem morre? Seria qualquer homem? Então essa alma e esse espirito quando se trata de Deus o dar, não é a mesma coisa que foi dada na criação, quando Deus soprou nas narinas do homem? Assim quando o corpo formado do pó da terra foi unido ao espírito (sopro de vida) então o homem passou a ser alma vivente. Essa alma não seria o resultado da união do corpo com o espirito? Aí gerando uma consciência que pode ser julgada pós-morte? Não seria estranho dizer que a alma do ímpio depois de morrer vai para Deus pois foi Deus quem deu a alma dele. Ele não vai ao Hades, lugar de morte (separação de Deus) Aguardando a segunda ressurreição onde só aí, então, será apresentado diante de Deus e depois lançado no lago de fogo?
Graça e paz, irmão!
Sua pergunta é profunda e demonstra zelo pelas Escrituras. Respondendo sob uma perspectiva reformada, com base na revelação progressiva da Palavra de Deus e na tradição teológica herdada da Reforma, podemos considerar os seguintes pontos:
1. Eclesiastes 12:7 e o “espírito que volta a Deus”
“E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” (Ec 12:7)
O texto afirma que o espírito (hebraico: rûach) volta a Deus. Isso não significa necessariamente salvação ou comunhão eterna com Deus para todos. Trata-se de uma afirmação sobre soberania e origem, não sobre o destino escatológico da alma. Todo fôlego de vida procede de Deus, e ao morrer, o ser humano devolve esse fôlego àquele que o deu. A ênfase é mais existencial do que escatológica.
2. Diferença entre espírito, alma e corpo
Na teologia reformada, costuma-se entender o ser humano como uma unidade dual: corpo e alma (ou espírito). As Escrituras, em algumas passagens, fazem distinções funcionais entre alma e espírito (Hb 4:12), mas geralmente os termos são intercambiáveis, referindo-se ao aspecto imaterial do ser humano.
Assim, a alma (ou espírito) é a parte imaterial e consciente que continua existindo após a morte, aguardando a ressurreição do corpo.
3. O homem como alma vivente (Gn 2:7)
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” (Gn 2:7)
Deus soprou vida no homem e ele passou a ser uma “alma vivente”. Isso não significa que a alma é uma terceira substância autônoma formada da união entre corpo e espírito, mas sim que o homem, como ser vivo com consciência e personalidade, passou a existir plenamente. A alma é, portanto, a pessoa integral, dotada de corpo e espírito.
4. Destino da alma do ímpio após a morte
Na perspectiva reformada clássica:
Os justos, ao morrerem, entram em comunhão com Cristo, aguardando a ressurreição gloriosa (Fp 1:23; Lc 23:43).
Os ímpios, ao morrerem, entram em estado de separação consciente de Deus, aguardando o juízo final (Lc 16:23; 2Pe 2:9; Ap 20:12-15).
O Hades ou “Sheol” é o estado intermediário da morte — não necessariamente um lugar físico, mas uma condição de separação consciente da presença favorável de Deus.
Portanto, quando se diz que o espírito “volta para Deus”, isso não significa reconciliação ou salvação, mas que Deus permanece soberano sobre todos, inclusive sobre os que o rejeitam.
5. Julgamento e consciência pós-morte
A alma/espírito mantém sua consciência após a morte, conforme ensinam textos como Lucas 16:19-31 e Hebreus 9:27: “Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo.” Não se trata de aniquilação nem de reencarnação, mas de responsabilidade moral eterna diante de Deus.
Conclusão
De forma resumida:
O espírito volta a Deus no sentido de que a vida pertence a Ele;
Alma e espírito são usados de forma intercambiável para a parte imaterial do homem;
A alma continua existindo após a morte, consciente, e será julgada por Deus;
O ímpio não “vai para Deus” em termos de comunhão, mas está sob o domínio dEle, aguardando o justo juízo;
A ortodoxia reformada sustenta a continuidade da alma e a certeza do juízo eterno, reafirmando tanto a soberania divina quanto a responsabilidade humana.